quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Desafios para inclusão digital no Brasil

  A presente resenha é fruto da análise do trabalho dos professores Fernando A. M. de Mattos e Gleison J. N. Chagas intitulado "Desafios para a inclusão digital no Brasil". Os autores abordam no ensaio em análise o conceito de inclusão digital, sua problemática, a questão dos índices utilizados pelo governo brasileiro, para quantificar o acesso ás novas tecnologias, bem como discorrem sobre a importância de políticas públicas para implementação da cultura de inclusão digital no Brasil.  

Antes, de adentrar no caso brasileiro, os autores evidenciam que a Sociedade de Informação criada pela última revolução tecnológica, foi capaz de aprofundar o descompasso existente entre os países. Ademais, entende os autores do artigo em questão que, a nova Sociedade de Informação é uma transformação do capitalismo acumulativo existente e não uma mudança de modelo e/ou paradigma. Os autores quando verberam sobre as formas como se apresentam os índices de inclusão digital são contundentes ao criticar os resultados aferidos, pois os mecanismos existentes não são capazes de mensurar a relação entre capacidade de compreensão e as potencialidades oferecidas pelas Tecnologias de Informação (TIC). 
  
   Segundo os autores, tal relação não pode ser desconsiderada para o contexto brasileiro, em razão do elevado grau de desigualdade na educação formal das pessoas (assimetria informacional). Indo adiante, os autores demonstram como a concentração de renda no Brasil é um dos principais fatores geradores da exclusão digital. Para isso, apresentam dados oficiais para arrimar seu raciocínio. Neste ponto, concluem que os melhores índices de inclusão digital se concentram nos estados da federação que possuem as mais altas rendas per capitas, o que reforça a teoria que o grau de desigualdade regional e pessoal de renda se reflete no grau de inclusão digital. Contudo, os autores são realistas ao informarem que a rede de internet, por exemplo, vem se expandindo no Brasil desde a segunda metade da década de 1990. Lado outro, revela que o fator deste crescimento se deu principalmente pelas “forças de mercado”, e não por meio de políticas públicas voltadas a inclusão digital da população.

   Por isso, reforçam a necessidade de que o governo deve atuar através de políticas públicas para manter o ritmo de crescimento do acesso à internet, bem como deve superar o duplo desafio de suprir antigas deficiências e criar novas competências requeridas pelas necessidades culturais e socioeconômicas da sociedade, no contexto da inclusão digital. Ultrapassada as questões suscitadas pelos autores, vale à pena ponderar que o texto em análise consegue abordar historicamente o resultado obtido no mundo com o advento de novas tecnologias, qual seja, o aumento do abismo existente entre países e pessoas por conta do “monopólio informacional”. É cediço que quem detém informação detém o poder. Assim, o Brasil deve criar medidas que consigam reduzir a assimetria informacional, visando à redução do hiato existente entre o nosso país e outros (análise da realidade externa); e, entre os próprios brasileiros localizados em classes socioeconômicas diferentes. Por fim, o texto conclui que políticas públicas sérias devem ser criadas e implementadas para reduzir a exclusão digital que acomete a maioria da população brasileira.
Fonte: 

EVENTOS - MÊS DE AGOSTO 2013

Inclusão digital - Smed Porto Alegre-RS - Oficinas de formação - 2013

Comunicação na era digital - Passo Fundo-RS - 2013

O papel do professor na era da educação digital

O BYOD - Bring Your Own Device - invadiu as salas de aula com uma avalanche de possibilidades que, se bem exploradas, pode levar a educação a um novo patamar.


  Houve um tempo em que os professores pediam para seus alunos desligarem seus telefones celulares e, recentemente, tablets em sala de aula, porém os tempos mudaram. Assim como no mundo corporativo, a moda BYOD – Bring Your Own Device (sigla em inglês que significa traga o seu próprio dispositivo) invadiu as salas de aula com uma avalanche de possibilidades que, se bem exploradas, têm tudo para levar a educação a um novo patamar. Cada vez mais as tradicionais editoras de livros didáticos têm explorado as possibilidades das telas multitoque e a conectividade desses dispositivos para repensar a maneira de criar e distribuir seus livros, que contam uma história que envolve todos os sentidos dos alunos e renova o prazer de aprender. Para os estudantes que praticamente nasceram com esses dispositivos nas mãos, trazê-lo para o dia a dia acadêmico é um processo natural e intuitivo, porém os professores têm um enorme desafio pela frente que passa, sobretudo, pela revisão do seu papel dentro e fora da sala de aula. Tradicionalmente o professor representava a fonte de sabedoria e conhecimento, compartilhado com os alunos em aulas predominantemente expositivas às quais os estudantes se limitavam a assistir enquanto tomavam notas ou copiavam do quadro negro. As interações se limitavam às perguntas e escassas atividades pedagógicas.


   Hoje convivemos com crianças e adolescentes hiperconectados, com acesso a um mundo de informação na ponta dos dedos 24 horas por dia, sete dias por semana, prontos para trazer outra perspectiva à sala de aula, colocando em xeque aquele papel tradicional do professor. Como toda grande mudança na história da humanidade, vivemos um enorme desafio, mas também uma oportunidade que tem as mesmas proporções. É preciso repensar o papel do professor, que por mais que resista a encarar essa realidade, deixou de ser o guardião sagrado do conhecimento, apesar de sempre ter um papel crucial na educação formal de crianças e adolescentes. Cada estudante munido de seus dispositivos conectados à rede pode, e deve, se transformar numa fonte que adiciona um pequeno tijolo ao mosaico de informações que se explora dentro e fora da sala de aula em colaboração com os demais alunos. Converter o livro didático em um organismo vivo que evolui em micro comunidades tão pequenas como uma sala de aula ou tão grandes quanto o conjunto de alunos do sexto ano do ensino médio de todo o País. É difícil imaginar a beleza dos livros e conjuntos de objetos resultante dessa enorme teia de interações, porém a maior recompensa certamente será o conhecimento produzido e internalizado no processo.

Fonte:

Brasil está atrasado em inclusão digital

  Para o especialista Marcos Cordiolli, PNE, UCA, PNBL e ProInfo podem ajudar a reverter este quadro


  
Pelo acordo recente envolvendo o governo e as empresas de telecomunicação para o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), ficou acertado que as empresas vão oferecer acesso à internet banda larga, com pelo menos um Megabit por segundo, pelo valor de R$ 35 por mês. A ideia é que haja uma rápida expansão do acesso à rede mundial de computadores, e, com isso, sejam criados novos programas de inclusão digital para camadas de menor renda da população. Aliado a isso, o governo está incentivando, por meio de desoneração fiscal e crédito especial, programas de compra de computadores. Nesse sentido, cabe o questionamento sobre como o Brasil está no processo de inclusão digital e como as escolas estão em termos de infraestrutura. Uma pesquisa da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou, recentemente, que as escolas brasileiras ocupam o último lugar, entre 38 países pesquisados, quanto ao número de computadores por aluno. São 6,25 estudantes por computador, o que equivale a 0,16 máquina por aluno. Além disso, 53,3% dos estudantes brasileiros não têm computador em casa. Ou seja, mais da metade dos estudantes está fora do mundo digital, salvo por visitas a lan houses e telecentros. Em entrevista à TIC Educação, o consultor pedagógico, Marcos Cordiolli, explicou a situação do Brasil em termos de inclusão digital.

Segundo Cordiolli, o País ainda está atrasado na inclusão digital em função da brutal desproporção do acúmulo de renda e das políticas públicas excludentes de quinhentos anos de nossa história. Ele se diz otimista em relação à ampliação das condições de conexão e à inclusão da nossa população na webesfera com qualidade social. Falou, ainda, que o PNBL e os incentivos à compra de computadores e tablets podem ajudar a amenizar os cinco séculos de déficit social na educação. Mas enfatizou que é preciso garantir que as escolas e equipamentos culturais disponham de acesso dedicado para que a população possa produzir conteúdos audiovisuais e digitais interativos, pois, segundo Cordiolli, não basta apenas acessar os conteúdos, é preciso ter voz, se fazer presente na rede.

TIC – Como você enxerga o Brasil em termos de inclusão digital?

Marcos Cordiolli – As tecnologias digitais promoveram algumas mudanças estruturais em nosso dia-a-dia. A WEB 1.0 disponibilizou grandes volumes de informações, democratizando o acesso à comunicação e potencializando a produção de conhecimento. E a WEB 2.0 forneceu instrumentos para que as pessoas disponibilizassem conhecimentos, opiniões e outros conteúdos viam blogs, ferramentas wikis e redes sociais, criando o que denominamos popularmente de Webesfera. Porém, alguns fatores estão relacionados. O Acesso à webesfera e os recursos das vias digitais dependem de: acesso a equipamentos pessoais como computadores e telefones celulares; acesso à conexão por cabo ou ondas; acesso a softwares para operação dos computadores e conexões; acesso a recursos que permitam produzir conteúdos e disponibilizá-los na Internet; disponibilização de conteúdos digitais de interesse social e cultural; e qualificação da população para acessar com qualidade os recursos da Webesfera. O acesso a equipamentos pessoais tem avançado rapidamente no Brasil. O aumento da renda possibilitou que segmentos maiores da população pudessem comprar equipamentos. O comércio de equipamentos usados também está em alta (um computador novo, que custa em torno de R$ 1.200, é revendido em boas condições de uso, em média, 18 meses depois, por valores próximos a R$ 300,00). O governo implantou dois programas importantes: a redução de tributos sobre produtos fabricados no país para Tablets (a joia dos desejos atuais); e o MEC desenvolve com sucesso o programa UCA (um computador por aluno) que, se implantado, irá promover condições de acesso sem precedentes. O Congresso Nacional tem discutido uma forma de estimular a implantação de lan houses em áreas de baixa renda. É importante que o governo continue apoiando e ampliando a oferta de equipamentos para a população em escolas, equipamentos culturais, associações comunitárias, entre outros. O acesso à conexão deve melhorar bastante com a implantação do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) que promete a universalização da conexão de alta velocidade a baixo custo. O ritmo depende dos recursos e condições de operação do governo, mas o clima é de muito ânimo. As estimativas mais pessimistas apostam que todas as residências estarão conectadas até o fim da década, as escolas públicas em dois anos e os colégios de ensino médio ainda em 2011. O acesso a softwares pode ser garantido pela comunidade de softwares livres, que já desenvolveu recursos eficientes e de qualidades em todas as áreas. Hoje, os usuários podem dispor gratuitamente dos recursos que precisam, utilizando softwares produzidos colaborativamente. No Brasil é preciso, no entanto, que as instâncias do governo e as escolas adotem os softwares livres para generalizar a sua cultura e desenvolver os hábitos de utilização. O acesso para a produção e disponibilização de conteúdos já conta com o apoio de sites gratuitos, alguns mantidos colaborativamente, outros com recursos de publicidade. É possível, hoje, ter acesso a obras de arte, sites de conhecimento acadêmico, jornais, materiais institucionais, tudo gratuitamente. Também é possível disponibilizar conteúdos produzidos, como textos, músicas, filmes, ilustrações e fotografias, utilizando os recursos de blogs (tipo o WordPress e o Blogger), sites de fotos (Picasa e Flicker), de documentos (Google Docs ou Issuu), de ferramentas wikis e de redes sociais (como o Twitter, Facebook e Google+). Também estão disponíveis na internet serviços gratuitos de e-mail e de comunicadores instantâneos (como o MSN, Skype e o Google Talk). Quanto à ampliação da disponibilização de conteúdos digitais de interesse social, ainda há restrições à circulação de diversos tipos de obras musicais, filmes, livros, fotografias etc pela Internet. Essas limitações podem ser superadas com o fomento para a produção de obras livres com protocolos, como o dos criativescommuns, e encontrando formulas para remunerar os produtores, ao mesmo tempo em que se garantam os direitos sociais de acesso à cultura e ao conhecimento. Também é importante constatar a ausência de programas de estímulo à produção de conteúdos audiovisuais e digitais interativos, para a Internet, representativos de nossa diversidade cultural, social e regional, assim como de interesses educacionais. No entanto, é importante verificar que estamos muito atrasados na inclusão da aprendizagem da linguagem audiovisual nos currículos escolares e nas ações educativas. De nada nos adianta o acesso se não temos conteúdos significativos e as nossas crianças e nossos jovens não aproveitem todo o potencial da Web 2.0 para também terem voz no mundo digital. A qualificação da população para acesso às tecnologias digitais e interativas está diante de um paradoxo. As crianças e os jovens têm grande facilidade para a apreensão dos códigos e linguagens das tecnologias digitais e interativas. É uma geração que integra a cultura digital rapidamente e vive hiperconectada. Adultos não têm a mesma facilidade para dominar minimante os instrumentos básicos da webesfera. É importante que os programas de inclusão organizem propostas com foco nessas pessoas. O Brasil ainda está atrasado na inclusão digital, como em outros setores da vida social, como herança da brutal desproporção de renda e das políticas públicas excludentes de quinhentos anos de nossa história. No entanto, o crescimento econômico com distribuição de renda dos últimos anos tem mudado rapidamente esse quadro. Eu sou otimista em relação à ampliação das condições de conexão e à inclusão da nossa população na webesfera com qualidade social. 

TIC – O acordo entre governo e concessionárias para levar banda larga a R$ 35 pelo PNBL pode ser eficaz para uma rápida expansão geográfica da internet e, assim, criar programas de inclusão digital de camadas de menor renda da população?

Marcos Cordiolli – Com certeza. O PNBL é um programa ótimo e necessário. Segundo o Ministro Paulo Bernardo, o PNBL conectará 1.173 cidades em 2011 e chegará a 4.283 municípios, com baixo preço, até 2014. O PNBL precisa efetivamente chegar a todas as regiões do país e aos diversos bairros das grandes cidades com qualidade tecnológica e de tráfego dos sinais de dados. Precisa garantir que as escolas e os equipamentos culturais disponham de acesso dedicado para que a população possa produzir conteúdos audiovisuais e digitais interativos. Como já disse, não basta apenas acessar os conteúdos, é preciso ter voz, se fazer presente na rede.

TIC – A OCDE divulgou recentemente que as escolas brasileiras ocupam o último lugar, entre 38 países pesquisados, quanto ao número de computadores por aluno. Você acredita que as escolas brasileiras têm infraestrutura para receber a tecnologia, ou seja, estão preparadas para acompanhar o aumento da inclusão digital que o Governo está pretendendo?

Marcos Cordiolli – O Brasil tem um déficit social de cinco séculos, e na educação não é diferente. Mas as mudanças dos últimos anos são promissoras, com o crescimento econômico do país. Os investimentos na Educação Básica foram multiplicados e cresceram para R$ 62 bilhões/ano. Além disso, as reservas de petróleo no pré-sal nos garantem uma riqueza extra, sendo que uma parte será investida na educação. O PNE (Plano Nacional de Educação) apresentou metas importantes de investimento na educação, com a melhoria da qualidade, a ampliação da jornada escolar e a valorização dos professores. Esses fatores reunidos, somados aos programas do UCA (um computador por aluno), o PNBL e os ProInfo, entre outros, são uma garantia de que podemos reverter esse quadro ruim. Mas precisamos reconhecer que 500 anos de descasos, corrupção e burocratização não são superados em tão pouco tempo. Para isso, é preciso ampliar a disposição dos professores, das famílias, dos gestores e das comunidades para defender e melhorar a escola pública. Portanto, podemos e devemos ser otimistas.

TIC – Quais os desafios e o que fazer para recuperar o tempo perdido no processo de inclusão digital das escolas do País?

Marcos Cordiolli – Além do desafio de prover as escolas com conexão de alta velocidade e equipamentos de boa qualidade, a inclusão digital precisa de outras duas linhas de ação: a qualificação dos professores e rever e aprimorar os currículos escolares e as propostas pedagógicas. No que diz respeito à qualificação dos professores, os estudantes estão cada vez mais hiperconectados e integrados à cultura digital. Os professores estão vivendo como imigrantes neste mundo, com dificuldades para acessar as vias digitais, dominar os gêneros das publicações da webesfera e utilizar esses recursos como instrumentos de aprendizagem e socialização. Necessitam, por isso, buscar uma rápida adaptação, frequentando atividades de formação e as vias de linguagens digitais (procedimentos que precisam ter mais peso e intensidade nos cursos de formação docente, tanto o inicial quanto a continuada). É importante também garantir aos professores linhas de financiamento para que possam ter os equipamentos adequados. Os professores se parecem como migrantes em uma nova terra, etc. Por outro lado, precisamos rever os currículos escolares e os projetos políticos pedagógicos. A webesfera, com todos os seus recursos, possibilita novas formas de acesso a conhecimentos e aos bens culturais e fornece instrumentos colaborativos eficientes para a aprendizagem. Estamos diante de uma grande oportunidade: promover os estudantes à efetiva condição de sujeitos de suas aprendizagens, articulando atividades inter e transdisciplinares e organizando o trabalho pedagógico na forma de projetos. As turmas podem se constituir em formas avançadas e diversificadas de comunidades de aprendizagem. Assim, as pesquisas podem estar baseadas nas variadas fontes disponíveis na Internet. Os estudantes podem disponibilizando os conhecimentos produzidos nas salas de Aula, em blogs, homepages, ferramentas wikis e nas redes sociais. As aprendizagens podem acontecer em atividades colaborativas que utilizem as redes sociais como o Twitter, o Orkut, o Facebook e o Google+. Para isto, é preciso integrar aos currículos escolares e propostas pedagógicas os estudos de gêneros linguísticos utilizados em homepages, blogs, redes sociais, infográficos, animações, filmes e imagens, bem como ofertar a aprendizagem da linguagem audiovisual entre os conteúdos fundamentais da educação básica. É preciso mudar as nossas culturas escolares e, ainda mais intensamente, na relação professores – estudantes.